quinta-feira, 24 de julho de 2014

O desabafo de uma brasileira que mora em Israel - Rita Cohen Wolf

Rita Cohen
Sra Presidente Dilma Roussef.
Na minha carteira de identidade de numero 4051182-6 expedida pelo Instituto Felix Pacheco no Rio de Janeiro, ao lado do item nacionalidade esta escrito "brasileira".
Sim, sou brasileira e "carioca da gema". Filha de pais brasileiros e mae de filhas brasileiras. Gosto de empadinha de palmito, agua de coco , feijao e farofa. Ouco Marisa Monte, Cartola, Caetano e Cazuza. Visto a camisa seja qual for o placar e posso mesmo declarar que tenho sangue verde e amarelo. 
Sou dos "Anos rebeldes", aqueles onde muitas vezes o maximo da rebeldia era cantar "Afasta de mim este calice" enquanto ficavamos de olho se algum colega de escola "era sumido". Aqueles anos onde Chico Buarque so podia ser Julinho da Adelaide. Sai as ruas pelas "Diretas Ja" e, emocionada, vi o Gabeira e o Betinho finalmente voltarem do exilio arbitrario.
Nos anos 90, com mestrado em Psicologia e em Educacao, fui honrosamente convidada a assessorar a Secretaria Municipal de Educacao do Rio de Janeiro. Cheia de entusiasmo, fazia parte de uma equipe profissional de primeira linha. A nossa frente, uma Secretaria de Educacao indicada pelo Prefeito nao por suas ligacoes politicas mas por sua competencia profissional e comprometimento por uma Escola de qualidade pras nossas criancas. 
E foi ai que comecei a perceber que algo de muito errado acontecia na minha cidade e no meu pais. Mesmo ocupando um cargo de onde poderia "fazer acontecer", percebi que apenas vontade politica, profissionalismo e amor pelas criancas do Rio de Janeiro nao eram suficientes pra mudar a antiga engrenagem: emperrada, viciada, corrompida e perversa.
Foi depois de ter sido assaltada 8 vezes, uma delas com um revolver apontado pra minha cabeca... foi ai que a ficha caiu e percebi que nao poderia mais criar minhas filhas no meio da corrupcao, suborno, mao armada e com medo da propria sombra. Tinha que me despedir do meu Pais.
Com muita dor no coracao e resolvi fazer as malas. Por livre escolha, assim como tantos e tantos brasileiros. Meu Pais nao podia me oferecer condicoes dignas de vida. Nao se preocupava ou nao agia com eficiencia em nome do bem-estar de seus cidadaos. Fiz minhas malas e vim pro Oriente Medio. 
Apesar de na minha carteira de identidade nao constar o item "religiao", eu posso lhe contar. Sou judia. 
"Judeu" palavra que para muitos esta diretamente associada a Judas o traidor de Jesus Cristo ( ele mesmo judeu) e tambem a Freud, Einstein, Bill Gates e Mark Zuckerberg e mais varios ganhadores de Premio Nobel. 
Optei viver em Israel. Me tornei israelense. Quanta contradicao, sair do Brasil por medo de assaltos e sequestros e vir para Israel...
Aqui Sra Presidente, quando estamos em perigo, soam sirenes para que entremos em abrigos anti-bombas. Nunca mais estive a ponto de ser pega por uma bala perdida, assim como nunca mais tive que sentir a dor no peito ao ver familias inteiras a beira da rua mendigando. Nunca mais tive que me pegar na duvida do que sentir diante de um pivete: medo ou pena. Por que aqui nao existem pivetes. A educacao e a saude sao um direito de fato de todos os cidadaos, independente de cor, raca ou credo.
Sou uma dos cerca de 10 mil brasileiros que vivem hoje em Israel e, que hoje de manha ao acordarem, deram-se conta de que o Governo brasileiro chamou o embaixador brasileiro em Israel pra uma " consulta em protesto pela operacao do exercito de Israel na Faixa de Gaza". Me pergunto se tambem foram chamados o embaixador na Siria, onde na ultima semana morreram mais de 700 pessoas. Ou talvez o embaixador no Iraque onde esta sendo feita uma "purificacao etnica". O proximo passo ja bate na porta: cortar as relacoes diplomaticas do Brasil com Israel.
Escrevo pra lhe contar Sra. Presidente que tenho vergonha.
Num momento tao delicado para tantos de nos brasileiros que vivem em Israel, no momento onde Israel recebe a visita e o franco apoio da Primeira-ministra da Alemanha, do Ministro do Exterior da Inglaterra, do Ministro do Exterior dos Estados Unidos e da Ministra do Exterior da Italia... um dia depois que o Secretario Geral da ONU visita Israel e declara que o pais tem todo o direito de se defender e a seus cidadaos do ataque de um grupo terrorista… depois disso, recebemos a noticia da chamada do Embaixador brasileiro.
A televisao anuncia a decisao brasileira e tenho vergonha. 
A vergonha nao e so pelo alinhamento do Brasil com os paises islamicos extremistas ao inves de se alinhar com a Democracia. Tenho vergonha tambem dos meios de comunicacao tendenciosos do Brasil, que so enxergam ou so querem enxergar um lado da historia. Mas isso ja e outra conversa…
Hoje, junto com a noticia da chamada do embaixador brasileiro, vi tambem na televisao que o governo de Israel esta enviando varios avioes pros quatro cantos do planeta para resgatarem israelenses que por conta do embargo aereo temporario das companias de aviacao estrangeiras nao conseguem voltar pra Israel. Uma verdadeira operacao resgate. Por que? Pois aqui a vida do cidadao tem valor.
Eu vivo num pais onde a vida de um soldado foi trocada pela de 1000 terroristas presos por crime de sangue.
Na minha ingenuidade, cheguei a pensar que o Brasil tentaria verificar a situacao de seus cidadaos em Israel nesse momento de guerra, se e que algum cidadao brasileiro estaria com alguma necessidade que pudesse ser atendida pela representacao do Brasil em Israel. Que bobinha...
Mais facil talvez seja mesmo vir a cortar as relacoes diplomaticas pois nao sei mais qual o valor do meu passaporte brasileiro.
Vergonha e desgosto por comprovar, que mesmo depois de tantos anos, o brasileiro ainda vale muito pouco, pra nao dizer quase nada, pro seu proprio pais.
E o verde-amarelo do meu sangue cada vez mais vai perdendo sua cor.

Obs... Essa materia foi cedida gentilmente pelo blogg da Rô... 

http://mulheresabias.blogspot.com.br

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